quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Maturidade na Relação a Dois - Artigo Folha de Londrina

Todos nós viemos de uma relação de um homem e uma mulher. Através desta relação a vida é passada adiante. Por isso na relação de casal estamos mais profundamente conectados com aquilo que leva o mundo adiante e o dirige. Essa força atua na relação de casal de forma especial. O que mantém a relação a dois coesa é a consumação sexual do amor. Ela nos conecta profundamente com essa força, por isso também é algo espiritual. A relação de casal é o que mais nos molda. Somos educados através dela. Nela renunciamos passo a passo a nossas ilusões e, exatamente por isso, estamos ligados a algo maior. E esta ligação é alcançada concordando com as diferenças como elas são. Despedindo-se da idéia de uma coisa ser certa e outra pior ou errada. Nós nos desenvolvemos à medida que reconhecemos, no decorrer do tempo, que aquilo que a princípio consideramos adverso é diferente sim, porém possui o mesmo valor. O homem é diferente da mulher e vice-versa. Os dois necessitam reconhecer que são incompletos. Eles se tornam completos através da relação de casal , ao reconhecerem que o outro, apesar de diferente, possui o mesmo valor e está a mesma altura. Desta forma desistem da idéia de ser um melhor que o outro. Neste momento os dois se tornam humildes, reconhecendo os seus limites, podem se unir a uma totalidade maior. Então podem vivenciar o relacionamento como algo preenchido e completo.

O amor entre parceiros exige a renúncia ao nosso primeiro e mais profundo amor, o amor por nossos pais. Somente depois que o apego do menino - afetuoso ou rancoroso - à mãe se resolve pode ele dar-se plenamente à parceira e ingressar na masculinidade. Também o apego da menina ao pai deve resolver-se antes de sua entrega ao parceiro e sua transformação em mulher. A união bem-sucedida exige o sacrifício e a substituição de nossos antigos vínculos com os pais - os do menino com a mãe, os da menina com o pai. O menino viveu sua infância sobretudo dentro da esfera de influência da mãe. Se continuar ali, esta influência permeará sua mente e ele privilegiará o feminino. Sob o domínio da mãe, poderá tornar-se um grande sedutor e amante, um "don-juan", mas jamais será um homem que aprecie e respeite as mulheres ou mantenha um relacionamento afetivo duradouro. Também não será um pai forte e dedicado para seus filhos. Ele deve renunciar ao primeiro e mais entranhado amor de sua vida - a mãe - passando para a esfera de influência do pai. Na nossa cultura, os rituais formais que antes sustentavam esse processo de passagem da mãe para o pai, desapareceram. Dessa forma passar da esfera da mãe para o pai costuma ser um passo doloroso e difícil. Mesmo o serviço militar, que poderia ajudar o menino a deixar de ser o típico "filhinho da mamãe" deixou de ser viável para muitos jovens.

A menina também ingressa na vida sob a influência da mãe, mas chega um momento na infância que o pai a fascina e, se tudo vai bem, ela consegue a arte de atrair os homens na firme segurança do amor paterno. Se, porém, permanecer nesta esfera, a da influência paterna, passa a ser a "garotinha do papai". Pode amar alguém, mas não alcança a maturidade plena da mulher; tem dificuldades para se relacionar em igualdade de condições com um parceiro, tem a sensação de ser superior, de ser a mais poderosa da relação e também pode não conseguir ser uma mãe generosa e dedicada. Ela não admira muito o companheiro, acha que poderia ter um homem mais ativo, mais seguro e independente ao seu lado. Pode inconscientemente, oprimir o homem para se sentir segura. Mas, ao mesmo tempo, fica infeliz por não admirar o paceiro. Para tornar-se mulher, a menina precisa "abandonar" internamente o primeiro homem de sua vida - o pai - e reaproximar-se de sua mãe.

Margareth Alves, psicóloga e terapeuta familiar.

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