segunda-feira, 13 de julho de 2009

Mudança e aceitação - Margareth Alves

Estou constantemente falando de mudanças. Como é bom mudar o trajeto do trabalho de vez em quando, mudar o tipo de roupa que costumamos usar, mudar o corte e a cor do cabelo, mudar a disposição dos móveis da casa, mudar a alimentação e experimentar algo novo, sentar em um lugar no restaurante que eu não sentei ainda. Desta forma posso experimentar olhar para mesmas situações de uma nova forma. Melhor ou pior? Diferente! E mudar comportamentos que estão instalados a tantos anos, será que é tarefa fácil?Mudar significa reconhecer que talvez algo não esteja tão bem e que é pode ser reavaliado.É da natureza do ser humano gostar de ver mudanças nos outros e resistir a fazer mudanças em si mesmo. Quando somos confrontados com mudanças e transformações, vemos que algumas das dimensões do ser humano (físicas, emocionais e espirituais) podem ficar apegadas ao passado, causando enorme sofrimento. É a “não aceitação”. O desafio de aceitar as coisas como elas são, e não como nós gostaríamos que fossem, é talvez uma das lições mais difíceis de aprender. Aceitar a realidade é percebido pela maioria das pessoas como fraqueza, conformismo, inatividade e passividade. Mas o sentido da aceitação é muito mais amplo que isto. Se estou no leme do meu barco, defino meu destino e velejo numa direção que escolhi, estou “com as rédeas da vida” em minhas mãos. Eu tenho o poder de mudar meu rumo ou minha velocidade. De seguir meu curso ou parar. Mas, se no meio do percurso vêm ventos inesperados e rajadas súbitas ou correntezas imprevisíveis, eu preciso aceitar esta nova situação. Tenho que aceitar que talvez planejei mal meu trajeto, ou pode ser mesmo que o que está ocorrendo estava fora de qualquer previsão. Estando nesta realidade, a não aceitação significa ficar se criticando pela falta de planejamento ou reclamar de fatores incontroláveis. Isto agrega algum valor? Faz diferença ficar reclamando?Aceitar a realidade significa reconhecer um erro ou uma imprevisibilidade, mas, acima de tudo, agir em cima da nova realidade, definir o que será feito como próximo passo e agir conforme a decisão. Aceitar uma realidade não significa que você deva “gostar” da nova situação. Significa reconhecer que aquele momento é especial, é perfeito, pois está nos mostrando uma lição nova que precisamos aprender. Chorar pelo passado ou sonhar pelo que as coisas poderiam ter sido não leva a nada. Por isso, da próxima vez que algo incomodar não gaste energia reclamando, mas pense no que pode mudar com esta situação? O que eu posso aprender? Como posso me transformar permitindo que a pedra bruta se lapide com este sofrimento?E mãos à obra, não tenha medo de mudar.Pergunte a si mesmo eu sou pipoca ou piruá?

Pipoca - Rubem Alves
A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer. Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com gente. As grandes transformaçoes acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que é o seu jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre. Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: Bum! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisas mais maravilhosas do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria a ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo. E você o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?